quinta-feira, dezembro 23, 2010

C H A P A D A


C H A P A D A II

Aqui são todos muito bonitos,

os homens, os bichos, as plantas.

Aqui, todos vivem numa melodia sem conflitos,

os homens, os bichos, as plantas.

Aqui, todos. Aqui vivem.

Nunca foram tão simpáticos comigo,

nunca fui tão simpática com eles.

Nem com homens, nem com plantas, nem com bichos.

E como voltar pra esse lugar?

Onde não se tem horizonte

não se tem encontro,

só conflito.

E eu, aqui.

Não tenho nada, tenho tudo.

A cabeça balança no fim do dia,

mas eu não andei de barco.

Apenas subi montanhas!


C H A P A DA III


A busca

da felicidade é como apanhar

mosquitos

pela noite

Zumbem pelo ouvido,

tapas ao ar.

E quando pega!

Espirra sangue.

E passa

de volta

ao tranqüilo

sono da vida.

E a arte vem

nos espaços

dos tapas

buscar o vazio

E eu vou dormir

como se estivesse

caçando

mosquitos pela noite toda.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Contagem do Tempo


Perdi a contagem do tempo,
pra chorar agora
fico olhando o sol
partir, as horas

Ainda bem que não tenho pratos
que não como gatos
e que sou livre
dentro desta prisão

Queria mesmo era partir
o espaço entre o sim e o não
você em nada
nado em vão

Queria a minha cama
onde choro
lágrimas sempre secas
e molho só o sonho

Arrancar seus cabelos
pendurar na porta da entrada,
como coisa de bichos sabe.
deixar-te-ei ali, intocável, embaussa-amável.

Assim não fugirias
e eu sairia
em busca
de comida









segunda-feira, dezembro 20, 2010

C E R R A D O - A V I D A


C E R R A D O.

I

Flor,

tive que pegar na caneta, desculpa se te borro.

Estranho não te ver

quando os pedaços são seus

Aqui dentro, gozo.

Te levo no meu sonho

onde o galope é meu

e posso voar.

Num tempo que nem conto,

sem ponteiros, só o sol.

Te vejo, sempre

a entrar pela porta do quarto.

Os pássaros só sabem cantar

e as nuvens só sabem mexer.

Assim a cabeça não pára

no lugar errado.

E eu te borro

com tons pastéis.

Vira a pintura

que existe agora dentro de mim, vira!

II

Perto do mato,

não temo os bichos,

os homens da cidade

causam-me calafrios.

Jogo-me nessas paredes

que meu corpo encontra.

Queria você aqui,

sinto seu cheiro ao fim da tarde.

Vou te tocando pelas beiradas

pelas frestas do espaço

confesso tudo em silêncio

e sua ausência me basta

Agora, neste fim de sol

na varanda do seu Claro

vejo a vida passar

um tempo de cada vez

E te quero, como eu te quero

neste tempo sem ponteiros

nesta simplicidade de existir

que só você e a natureza podem me dar.


III

As nuvens vão se juntando

e aos seus pés o barulho das gotas.

Quase que me desespero com o silêncio

mas as notas formam-se no ar.

Neste silêncio dos acordes,

realizo um sonho adolescente

andar sem rumo

nem discórdia.

E lá você está

nua a minha espera

libertando o pudor

que sua vida te dera

E vamos num galope

nos meu sonhos pelo cerrado

tocar as estrelas, assim

conforme o combinado.

IV

E agora parto

para mais um dia de mato

durmo no regaço

da minha bagunça infinita

Acordo nos acordes

ando onde há espaço

sinto a escuridão da noite

é hora de recolher as tralhas

Para amanhã juntar

tudo numa mala

e andar pelo silêncio,

dos pés e das águas

Mais um dia de solidão

mais um dia de espaço

o tempo não veio

só veio o meu verdadeiro amor.