terça-feira, março 22, 2011

MALDITA IGNORÂNCIA

ignorância
s. f.
1. Estado de quem ignora.
2. Falta de ciência ou de saber.
3. Incompetência.

Decidi estudar porque não queria ficar parada vendo a minha vida jogada a este destino capcioso que estavam tentando inventar pra mim. Costumo com freqüência ser questionada o porquê de estudar filosofia, afinal para que serve isso tudo? Essas coisas complicadas, essas pessoas que “viajam”. Viajam para onde? Talvez para um lugar mais perto de mim própria, talvez para ter ferramentas suficientes para construir meu próprio futuro, a partir da realidade que me é dada. Com certeza para poder ter uma melhor condução da vida e aumentar, só aumentar a minha potência de agir, nas mais variadas formas em que isso é possível. Ser afetada de bons encontros, alegres encontros, que só são produzidos, quando se tem um conhecimento adequado das coisas.

Aí, outro dia, ouvi de uma pessoa bem próxima, da qual inclusive nutro uma certa admiração, da qual tenho vontade de partilhar estudos e questões filosóficas, que ela estava em dúvida se escolhia estudar ou optar pela ignorância, afinal ter a própria condução da vida e do que pode um corpo, costuma dar imenso trabalho. Que se agora resolvesse trocar todas as suas submissões e obediências por uma “consciência” do que realmente se passa, e de que lugar pode e deve ocupar no seu próprio ato, fugiria dos lugares que agora está, e seria muito difícil. Que não poderia estar assim atenta todo o tempo.

Eu, absolutamente admirada com essa afirmação, disse que me decepcionava, pois não conseguia entender alguém fazer essa escolha assim tão livremente, não conseguia entender alguém sequer pronunciar esta frase sem nenhuma vergonha. E fui imediatamente refutada, ao ouvir que a minha decepção era problema meu.

Bom, estou até agora um pouco revolta dentro de mim, afinal o que posso fazer? Convencê-la de algo? Nem pensar, quem seria eu? Ao mesmo tempo, essa pessoa a todo tempo procura e quer estar em contato com os livros, com a filosofia. Mas pra que? Diz então que, algumas coisas servem, outras, prefere nem pensar. E eu, muda, só pensando em fugir.

É, agora me deparo com uma questão fundamental. Quero ter essa pessoa perto de mim, gosto dela, gosto de estar com ela, mas, mais do que qualquer outro dia, tive medo de gostá-la. Medo de um dia sequer ter pensado em compartilhar o que quer que fosse. Como alguém pode ser tão covarde, tão ressentida e tão fraca? Sinceramente não sei. Penso em me afastar aos poucos, afinal, que quero eu? Gastando minha energia, meus pensamentos e minhas palavras com uma pessoa que quer estar num estado de ignorância? Acho que agora a escolha é minha, assim como foi a decepção que ela anunciou. Decepção por achar que via ali, alguém que estava em busca de algo parecido com que eu busco, e que na verdade não era bem assim. Que na verdade, não consegue enxergar um Deus não católico, judaico, simplesmente por dar muito trabalho desconstruir todas as coisas.

Me pergunto mesmo, de verdade, o que é que se ganha estando na ignorância? Como isso pode ser bom? Em que instância, em que lugar, onde? As vezes, brinco com amigos, de que certas coisas seria melhor não saber para que não se sofra. Mas hoje percebo, que este estado passa, e que ao corparmos certos conceitos, ao contrário do que se parece, sim, as coisas ficam mais simples, e o sofrimento torna-se menor, afina,l de que formas passamos a ser afetados?

Então, sinceramente, vá pra puta que te pariu sabe. Continuo decepcionada sim, que continua a ser um problema meu sim, e me entristeço em ver tanto potencial jogado no monte de lixo que é a vida dos presos.

"Não há nada de positivo nas idéias que constitua a forma da falsidade. Mas a falsidade não consiste nem na privação absoluta, (pois diz-se que as mentes erram e falham mas não os corpos), nem na ignorância absoluta, pois errar e ignorar são coisas diferentes. Logo, a falsidade consiste na privação de conhecimento". (Ética, Spinoza)

Então priva-se do conhecimento, que vai ser melhor pra você.

Já eu, não sei onde é que vou estar, talvez longe daqui, ou mais tarde num lugar onde valha a pena estar, pois as almas não são nada pequenas, como já diziam os poetas!

IGNORANCIA I

As notas suspensas
sem cessar
ao fundo cachorros latem
e as notas voltam em operetas

As letras, as palavras
invadem um corpo
habitam agora o entendimento
de que? Pra que?

Acordo assim, cheia
de setas que indicam
viradas para todos
os lados.

E a cada afeto que como
fortaleço meu corpo
de conhecimento
e ignoro, os ignorantes

os por vontade
os por escolha
os por omissão
os por covardia

E aqui sentada
contemplo a vida
afinal, não me bastam as letras
é preciso devorá-las!











quinta-feira, março 17, 2011

NO MEIO DE TUDO

Uma perna para a direita
um dedo ao meio
uma palavra muda
sem acertos

Hoje quero
amanhã nem tanto
sábado nem lembro
permaneço nesse estado mole

Hoje quero de novo
domingo nem saio de casa
e segunda já esfriou o tempo
Voltar?

Se volta ou se vai?
saudades dos cabelos brancos
que ainda nem tive
corção verde com veias douradas

Não saber nada
pra onde vão as folhas
por onde olham os amantes
em que buraco se cai

Tenho que levantar
de qualquer forma
em qualquer formato
o meu caminho

O nosso caminho
vocês estão aqui, comigo
estou aí sozinha
pra ver a vida passar.