segunda-feira, março 31, 2008

Solidão cotidiana

Sinto-me só, dentro de uma banheira branca, onde a espuma do sabão jorra por meus dedos apertados como numa erecção. Escorre gozo pelo meu corpo todo. E eu me excito, eu me masturbo e eu me concentro. Grito; grito solitário, grito seco.
Sinto-me mole, levanto-me com disposição de quem acaba de viver um acontecimento feliz. Penteei meus curtos fios cabelo; pinto os olhos; visto a roupa do baile de sábado e saio à rua de óculos de sol em busca de um passeio contente.
Na primeira quadra me alimento de porcarias, na segunda sinto-me a dona do mundo, na terceira chove e volto. Compro o jornal para sentir-me inteligente, sento-me no café para sentir-me social. Alguns minutos depois já estou em casa no sofá.
Vejo um filme triste e choro. E a vida passa num filme como no dia da morte, e já não choro mais pelo romance, mas por entre a minha vida. E passa. Recomponho-me, choro de novo; agora lágrimas secas. Ali permaneço imóvel como estátua de pedra escura, e sinto-me tão só, mas tão só.
Saio de casa, sirvo bebidas às pessoas; vejo-as embriagarem-se com meus olhos sóbrios de uma profissional. Tenho vergonha, por ter um dia ter sido bêbada de futilidades, tenho inveja por náo estar feliz como aquelas pessoas.
Volto pra casa cansada. Tento ainda me divertir em alguma discoteca, sinto-me extraterrestre, desisto.
E cá estou a vomitar, sozinha!