segunda-feira, setembro 24, 2007

De volta para Lisboa


Quinze dias se passaram aqui no Brasil

Quinze dias de muitas emoções

Quinze dias de pouco tempo.


Logo que cheguei confesso grande decepção

Meu país, aquele em que me criei e fui criada

Me pareceu um caos, muita gente, muita coisa


E os dias foram passando

As pessoas foram aparecendo

E fui novamente acostumando

Com aquela vida de sempre


Agora é hora de voltar

Para a cidade que agora criei pra mim

E que também me cria

Estou de volta


Lisboa, estou de volta

Brasil, mais uma vez de partida


Daqui pra frente, é viver e ver


quinta-feira, setembro 13, 2007

Lisboa-São Paulo, um ano depois











O avião se lança do Tejo em direção à Av. Paulista
Muitas horas de ansiedade pela chegada e dez horas de saudades da partida.
Minha cabeça turbilha, turbilha. Até que pouso.
A minha espera estão aqueles que sempre estarão
Eu, a espera de não sei o que.

Deito naquela cama que por muitos anos sonhei com tudo o que vivo agora
Desta vez sonho com aquilo que deixei no além-mar
Aqui, é hora de fazer o balanço de um ano.
Lá, a minha espera toda uma vida de realizações ainda por vir.

Quando molhei meus pés no Tejo, passei todo um ano
A explicar o porquê de lá ter fincado meus pés
Aqui, explico
O que fiz nesse um ano de banhos, conto histórias
A vida aqui está mais cara
O trânsito piorou, a qualidade do ar virou tosse crônica
E não tenho saudades dessa minha terra tão amada
Não tenho

Tenho é saudades da minha casa, daquela que eu construi
Com meus próprios tijolos, alguns mais duros que outros
Mas essa minha casa é móvel
Carrego onde quer que ande, onde quer que eu vá

Amei, desamei, fui amada e desamada
Agora aproveito a boa companhia que cá tenho
Estou sempre a espera,
Só que agora a de voltar para um lugar que se faz meu
De continuar a viver o meu sonho de menina
Que se concretiza feliz e duramente

Amo viver, mas amo mais é estar feliz
E sou feliz pela escolha do Tejo, sou
Daqui uns anos talvez volte a caminhar pela Paulista
Agora, só quero andar pelas Sete colinas












quinta-feira, março 29, 2007

primavera


Quantas são as folhas que vão nascer agora, quantos são os galhos que deixarão sua nudez e magreza para uma nova forma e cor? Quantos novos cheiros invadirão nossos sentidos e poros? Quantos graus de raios solares entrarão nas nossas janelas e iluminarão as nossas tardes?

E quanto a mim? De onde virão as minhas flores? Serão elas tão coloridas quanto a primavera ou serão tão verdes quanto a clorofila? Será mesmo um ciclo? Não vão elas daqui mais alguns meses cair e me deixar completamente nua novamente? Provavelmente que sim...
Tomara que eu consiga pelo menos manter as raízes em pé para que na próxima primavera as flores nasçam cada vez mais coloridas e os frutos possam amuderecer e cair no chão, sem que ninguém os arranque precipitadamente.

Que venha a PRIMAVERA!!!!!

terça-feira, março 13, 2007

Cronica da casa assassinada - Lucio Cardoso


"Por mais que viva, jamais poderei esquecer a sensacao transmitida pela forma dos seus seios entre minhas maos, da garganta macia onde meus labios passeavam, do perfume quente, adocicado, que se desprendia dela, como de um canteiro de violetas machucadas. Ah, e nem posso diozer que nao tremesse e nao suasse ante a extensao do meu pecado, pois repetindo mil e mil vezes que afagava e mordia a carne que me concebera, ao mesmo tempo encnotrava nisto um prazer estranho e mortal, e era como se debrucasse sobre mim mesmo, e tendo sido o mais solitario dos seres, agora me desfizesse sobre um enredado de perfume e de nervos que era eu mesmo, minha imagem mais fiel, minha consciencia e meu inferno.
Docemente escorreguei a mao ao longo do seu tronco, sentindo encrespar-se a macieza de sua pele - e como se fosse um caminho sabido de ha muito, e ali devese desaguar, unidas, as dissonancias do mundo, coloquei-a sobre seu sexo, que palpitou a esse contato como uma ventosa de la. Ela estremeceu, ondulou como a chegada de um espasmo - e sob meus dedos que se faziam mais duros, e mais precisos no seu afago, senti abrir-se aquela flor oculta, e desnudar-se o misterio de sua natureza, exposta e franca, como uma boca que dissesse, nao o seu nome, mas o nome do seu convite. Subia mao, voltei a afagar-lhe o talhe, dobrei-a, venci-a ao poder do meu carinho - e afinal como um grito rompeu-se o encanto e entreabriu-se a fenda escura e vermelha daquele corpo, num riso tao moco e tao vibratil que atraves dele parecia ressoar toda a musica existente.
Dizer que a amei, sera dizer pouco; deixando-me absorver, tentei absorve-la e dessa fusao retirei minha primeira nocao do amor, do seu abismo. Quantas vezes a amei, sera dificil dizer, tanto misturei o ama-la com o transporte que me comovia. Incentivava-me o ser sacrilego, imaginando uma afronta as leis humanas e divinas, deliciava-me em estreita-la contra mim, em machucar-lhe os seios, em morde-los, reiventando o gosto de ser crianca, e imaginando a vida estreita e funda, hoje minha, que independente de mim, a este mundo me havia conduzido.
Eu, nos mesmos, que outro delirio maior do que o dessas carnes sofregas que se uniam, e criavam temporadas extras em seus desvios de amor?"

Lucio Cardoso, in Cronica da Casa assassinada

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Quem canta pra quem?


Vambora

Adriana Calcanhotto


Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Vem Vambora
Que o que você demora
É o tempo que leva
Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda têm você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Dentro da noite Veloz

Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda têm você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Na cinza das horas

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Escrita feminina


"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntas, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreberta: elas respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água delas. Andavam por ruas e ruas, falando e rindo, assim davam peso a levíssima embriaguez que era a alegria da sede delas. A boca ia ficando mais seca de admiração. Como admiravam estar juntas.
Até quando tudo se transformou em não. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ela procurava e não sabia e ela não via que ela via a tudo. E no entanto as duas não estavam, mas ali estavam. Tudo errou e ainda havia a poeira das ruas. Quanto mais se distanciavam com mais aspereza se tinham uma a outra. Sem um sorriso. E tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídas... só porque de súbito se punham na tolice do medo precipitado. Estavam exigentes e duras. Tudo porque agora era tarde e já eram tudo o que um dia quiseram ser. Foram então aprender que não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso dormir fora para que a carta chegue. E quando o telefone finalmente toca, o desejo da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraidas...."

" Debruça-te sobre a tua casa e a tua mulher. Pergunta no mais profundo de ti, no teu abismo, se é maior teu espaço de amor ou maiores os medos, esses rigores, a ti te proibindo. Tua amiga incorporada ao teu próprio destino. Não cabe medida quando se trata de desejo e amor. Dessa coisa incontida que é o amor. O coração amante se dilata. O preconceito? Um punhadinho de sal num mar de nós duas"

"Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é verdade que nunca me soubeste?"


Diana Tavares, Clarice Lispector e Hilda Hilst (não necessariamente nesta ordem)

terça-feira, janeiro 02, 2007

Viver não dói


"Definitivo, como tudo que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por que?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos, por todos os shows, livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A reposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, na força que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional"

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, janeiro 01, 2007

A vida começa onde termina

2006 - Foi um ano onde aconteceram tantas coisas na minha vida, e acabou que foi muita coisa para um ano só. No balanço geral, mais coisas positivas do que negativas, ainda bem...
2007 - Espero que seja um ano mais calmo...embora meu ritmo seja sempre veloz.
Desejos - Sabe quando entra o ano e você pensa o que quer que aconteça de verdade, de real? Pois bem, já tenho a minha meta: conhecer pessoas inteligentes, sensíveis e verdadeiras. As que já conheço pretendo manter na minha vida. E o resto..... bem, o resto vem com o vento, o grande semeador.

Feliz ano novo!!!