quarta-feira, outubro 08, 2008

Cuidado com o Cazuza....ele machuca!!!




Ritual
Cazuza e Roberto Frejat

Pra que sonhar
A vida é tão desconhecida e mágica
Que dorme às vezes do teu lado
Calada
Calada

Pra que buscar o paraíso
Se até o poeta fecha o livro
Sente o perfume de uma flor no lixo
E fuxica
Fuxica
Tantas histórias de um grande amor perdido
Terras perdidas, precipícios
Faz sacrifícios, imola mil virgens
Uma por uma, milhares de dias
Ao mesmo Deus que ensina a prazo
Ao mais esperto e ao mais otário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Que o amor na prática é sempre ao contrário

Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba


Não amo ninguém
Cazuza, Roberto Frejat, Ezequiel Neves

Eu ontem fui dormir todo encolhido
Agarrando uns quatro travesseiros
Chorando bem baixinho, bem baixinho, baby
Pra nem eu nem Deus ouvir
Fazendo festinha em mim mesmo
Como um neném, até dormir

Sonhei que eu caía do vigésimo andar
E não morria
Ganhava três milhões e meio de dólares
Na loteria
E você me dizia com a voz terna, cheia de malícia
Que me queria pra toda vida

Mal acordei, já dei de cara
Com a tua cara no porta-retrato
Não sei por que que de manhã
Toda manhã parece um parto
Quem sabe, depois de um tapa
Eu hoje vou matar essa charada

Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro

Por aí
Cazuza e Roberto Frejat
Se você me encontrar assim
Meio distante
Torcendo cacho
Roendo a mão
É que eu tô pensando
Num lugar melhor
Ou eu tô amando
E isso é bem pior, é

Se você me encontrar
Rodando pela casa
Fumando filtro
Roendo a mão
É que eu não tô sonhando
Eu tenho um plano
Que eu não sei achar
Ou eu tô ligado
E o papel, e o papel
E o papel pra acabar
Se você me encontrar
Num bar, desatinado
Falando alto coisas cruéis
É que eu tô querendo um cantinho ali
Ou então descolando
Alguém pra ir dormir
Mas se eu tiver nos olhos
Uma luz bonita
Fica comigo
E me faz feliz
É que eu tô sozinho
Há tanto tempo
Que eu me esqueci
O que é verdade
E o que é mentira em volta de mim

Nós
Cazuza, Roberto Frejat

Mas não é só isso
O dia também morre e é lindo
Quando o sol dá a alma
Pra noite que vem
Alma vermelha, que eu vi
Vê, são tantas histórias
Que ainda temos que armar
Que ainda temos que amar

Por enquanto cantamos
Somos belos, bêbados cometas
Sempre em bandos de quinze ou de vinte
Tomamos cerveja
E queremos carinho
E sonhamos sozinhos
E olhamos estrelas
Prevendo o futuro
Que não chega

Não é só pensar no fim
Nas profecias
Não, não, não, não
É pensar que um dia
Sob algum luar
Vou te mandar um recado
Um reggae bem gingado
Alucinado de amor
Amassado num guardanapo

Pra rirmos dos loucos
Dos sábios, dos mendigos
E dos palhaços noturnos
O sal da terra
Ainda arde e pulsa
Aqui nesse instante
E olhamos a lua
E babamos nos muros
Cheios de desejos

Um dia na vida
Cazuza, Maurício Barros

Não existe nada vivo
Dentro desse quarto
Todo dia eu pego o medo
Meço, mato e guardo
Num cansaço calmo de sobreviver
Cantar pra subir
Descer e dar uma banda
Um dia na vida vale
Você vem
Você tem
Um dia na vida vale pra comemorar
O nosso encontro em nenhum lugar
Pra que escrever poesias num papel higiênico
Depois se limpar com as tristezas de sempre
Um dia na vida
Outro fósforo, outro sol
"A vida é um piscar de olhos
E o amor, um alô e um tchau"
Um dia na vida passa de carona na esquina
Um dia na vida vale qualquer tentativa

sábado, outubro 04, 2008

VIDA LÍQUIDA

Quando ouvi pela primeira vez Hilda escrever VIDA LÍQUIDA, sabia. Nunca pensei em definir este conceito, mas sabia; senti essa vulnerabilidade da VIDA LÍQUIDA; senti com os olhos fechados HIlda escorrer em mim. Alcançou-me como nun enlace, logo escapou e escorri, sorri.



Hoje, por decorrência dos fatos, quis definir a minha própria VIDA LÍQUIDA. As palavras deslizaram até as pontas dos dedos e brindei o papel com o cinza do carbono.



Sabia....



Por quantos segundos consegues segurar um punhado de água entre as mãos?

Por quanto tempo aguentas um pedaço de água na boca sem a engolir? Sem cuspir?

Quantas horas podes segurar sua bexiga sem urinar-se toda?

Quantas vezes tiveste o orgão genital seco estando cheia de tesão?

Já te cortaste profundamente e o sangue coagulou?



Enumeraria fatos até o fim do lápis. Paro; reformulo.



Fisicamente o líquido é atribuído à determinadas partículas em determinadas formas de aproximação entre si. Poderíamos dizer algo sobre a moleza do material. Partículas entrelaçadas de forma frouxa; não-dura.



VIDA LÍQUIDA é devir-água; escorre.



Já sentiste a vida vazar por entre suas mãos?

Já quiseste engolir a vida? Cuspí-la?

Algum momento a vida lhe foi orgânica, como no processo beber-mijar? Inevitabilidade

Sabes quando a vida lhe é tão intensa que precisas gritar orgasmicamente? Pulsão de morte

Já viste a vida sangrar por dentro? Orgãos corroídos



Acho que não sei lhe falar sobre VIDA LíQUIDA; liquidez. Talvez eu nunca tenha conseguido segurar a vida, como a água entre por entre os dedos, como o xixi por entre as calças, como água na boca, como calcinha molhada num beijo quente, ou como sangue correndo nas veias.



A minha vida é líquida porque escapa por todos os lados. Que prazer vê-la escorrer desta forma, mil vezes cachoeira à líquido engarrafado. Seria apenas no máximo etílica; líquido parado é dengue; corpo doente é morte. Morte, antítese da vida. VIDA LÍQUIDA.



Aceitas beber um copo de vida?



VIDA LíQUIDA

quarta-feira, outubro 01, 2008

Bola de fogo, lavra de vulcão



Sou pequena perto deste desejo
que tu soltas pelas ventosas,
minha pequena cavalo-marinho de fogo.

Sou enorme pela febre
que consome meu desejo
Gasta, gasta; e não acaba

Os deuses testemunham
esse calor que brota dos nossos olhos
Transformamos um dia frio em verão

Pegamos fogo, somos incendiárias
Chegamos a ser piromaníacas
Labaredas de prazer

Escorre do ventre lavra de vulcão
que em erupção palpita
sobre nossos sexos

Aboliremos os bombeiros
e águas que caem do céu
Mas deixemos o pássaro cantar

Da minha ou da sua janela
Será testemunha
Ocular

E agora,
que o vento se encarregue
Conduzirá o nosso fogo

Que a brasa não se apague
E difícil agora
é dormir sem me queimar