segunda-feira, fevereiro 28, 2011
A CASA
perder-se em si
já adquiri as paredes
sou feita de chão
Florestas estão a invadir
todo o tempo
todos os quadros,
quadriculados
Luz branca cega
luz que dá forma
à todas as bordas
das imagens dela
E te olho, óh natureza
das coisas e dos homens
encorporo-te em meus olhares
cuspo-te pelo dedos
E te toco
assim, de leve
borboletas no teto da varanda
me contam seus segredos.
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Hoje
quinta-feira, fevereiro 24, 2011
D E R E P E N T E
De repente.
Passei a me ver no outro dia, e não gostei muito do que vi. Aquela história de que o passado não muda, me bate na janela e fala para eu deixar de tentar mudar os fatos, porque eles já estão dados, já foi tudo feito. Sinto nojo de mim por dentro de você e isso me assusta. Queria me jogar dentro do sol.
De repente.
Uma certa tristeza assola minha manhã, acordei com os olhos acumulados. Já não posso nadar contra as ondas, ou o mar vai me levar para a ilha deserta de mim mesma. Chove por dentro, e poder tirar esta capa por entre minha pele e meu osso, é mais do que um ato de coragem, é uma tentativa de derrubar essa coisa que inventei pra me distrair, e que agora só me deixa atenta e dura. Queria que a água salgada deste grande mar escorresse pelos meus buracos. O céu está carregado de cinza, quem sabe chova tanto que arranque de dentro de mim alguma gota.
De repente.
Quero correr tanto que não tenho forças pra escolher os sapatos. Meu corpinho está tão mole, tão sem vida, tão sem força. Tenho vontade de largar ele por aí, e pegar outro na loja de manequins. Um bem forte, bem moço, bem feminino, um bem vazio, e encher de balas e doces. Depois pegar um punhado de pedras e jogá-las com tanta força, como se brincadeira de criança fosse. E ver os olhos jogados no chão, espatifados. Ficar só com os outros sentidos.
De repente.
De repente.
De repente.
Amanhã acordo e vejo que tudo não passou de um de repente, um se, e desisto de estar nesta malemolência que hoje está me deixando absorta, revolta.
De repente.
Tenho vontade de me masturbar para provar pra mim mesma que fazer amor comigo é gostoso. E não sinto nojo, não fico em dúvida no meio dos dedos pelos grandes lábios. Mas sim, o grito será seco, e ao invés de gotas de gozo escorrerem pelas minhas pernas, uma única gota de sal escorrerá pelo meu rosto, descendo vagarosamente até molhar meus pelos pubianos e confundirei de onde é que vem mesmo o prazer, se do espelho ou das costelas aparentes nessa magreza do meu coração.
De repente.
Eu não queria ter dito nada disso, e o tempo me convence de que de repente, já está tudo feito, e agora sofre com calma pra desfrutar as novas canções.
terça-feira, fevereiro 22, 2011
Desistência de espaços duros
espaços
linhas
rotas
Desisiti
de insitir
no gesso
que cala meu peito
Vou soltando
o molde
de cara de corvo
com bico quebrado
Há tantos corações
neste peito grande
há tantos anões
nesta casa verde
Não, só um anão
o meu, igual ao seu um.
gigantes de pés descalços
com lenços nos punhos
Guerreiros sem armadura
com a cara como escudo
pode bater senhora
as marcas não me deixam mais feia
Me deixam marcada
e sou todas esssas
amarras da floresta
que brindo com leite do meu gozo.
Já vou
quem sabe eu volte
se tiver mais quente a sua fala
se tiver calor esse seu corpo gelado
Você me marcou
com pedra de gelo
agora que vou
te digo, que desprezo
Então será assim
você brinca de fingir
mas eu não brinco de disfarçar
quero-te longe
Não me contamine
com essa coisa dura
não me discrimine por
tentar te inventar
A ciência acaba
agora, deixei sua descoberta
pra você
E eu, não te quero mais pensar
segunda-feira, fevereiro 21, 2011
MANHÃ NO PARQUE
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Aula de documentário em 2008.
Convulsiono de Desejo. Será que já teorizavam os sexólogos que à beria dos 24 anos sente-se muito desejo? Ou talvez a minha mais ou menos precoce vida amorosa, que agora encontra-se na mais inédita solidão, anseia, por corpos que ardem e suam e tocam e pingam? E que adormecem no seio do cheiro do sexo.
Não consigo concentrar-me a não ser nesses gritos que bramam por todo meu corpo e que agora conseguem sair silenciosamente pela tinta da caneta. À minha frente há um homem a falar sobre o documentário inglês dos anos 30. Apenas nomes ecoam e os que consigo escrever são do Flaherty e do Grimson, mas não sei mais nada, pois o húmido e quente que sinto entre minhas pernas não me deixa pensar em nada, absolutamente em nada que não seja sair daqui e a correr para casa e me masturbar até cansar.
Pareço louca, sórdida ou adolescente? Talvez eu seja esse conjunto; esse Uno de Heliogábalo Anarquista que se compreende através dos múltiplos. Prefiro ser tudo ao mesmo tempo; quero que me chamem nomes, que me chinguem dos palavrões mais medonhos que existem, que sou tudo isso. Dou-lhes razão; sou puta, louca, safada, sou.
Acho que já não posso mais suportar este homem a falar na minha frente, mas também se vou para casa fico preocupada que o tempo não está a passar e que não vou conseguir dormir porque meu corpo está a arder, sinto-me febril; tenho suor nas mãos e nas axilas.
Tenho a minha volta exatamente 25 pessoas, contando com aquele homem a frente. E agora passa pela minha cabeça, e se eu de repente desse um grito altista? Ia ser engraçado, as pessoas chamariam-me de doida e eu adoro, adoro como gelado de morango com cereais após o jantar.
Estou praticamente a ter um orgasmo sem sequer me mexer, ou apenas abanando as ancas para os lados. Me vem à cabeça a cena do André no "Lavoura Arcaica", àquela primeira cena em que ele masturba-se ao som do comboio. Fecho os olhos e o André está mesmo ao meu lado. Queria unir-me a ele no grito desabado deo desejo, mas as 25 pessoas me inibem. O que chocaria mais essas pessoas; aquele grito altista, o grito desbado após a masturbação, ou o grito de dor ao cortar-me toda; ou ainda o grito de vômito; ou o grito do meu cú a cagar em frente ao ecrã no fundo da sala? Dava uma boa aposta sem dúvida. Como acho que não consigo fazer todas essas coisas ao mesmo tempo, deixo a aposta para outra ocasião.
Acho que vou sair daqui e fumar um cigarro, quem sabe esses devaneios desapareçam, quem sabe...