sexta-feira, novembro 13, 2015

JAZZ DA NATUREZA

Lenços
um nó na garganta
por dentro
um mundo de raízes

De cabeças
lancinantes
Pegajoso
Fluxo floema

Alturas
que suspendem
os pés
fincados na lama, de Mariana

Tóxico é o elo
de dois pontos na mesma curva
distantes
como aqueles que não se amam

Ou tão próximos
como aqueles que não se conhecem
mas sobem montanhas
num assombro da vida

Qual é a sua melodia?
Natureza perfeita
um jazz
para celebrar a improvisação


segunda-feira, abril 13, 2015

Meio do Caminho

Estrada longa
estrada curta
meio do caminho
com a cabeça para trás
giro entre as folhas
grito

Extensão do corpo
no toque do galho
outono
deserto
no meio do caminho
cabeça-pêndulo

um passo
sem direção
por lado
fixado no chão
corpo duro
dobra do tronco

Corpo mola
impactos
desvios
desvios
desvios
produção

Cúmplices

Cúmplices de um crime
eles não se entregam
guardam
o fio da meada

Cúmplices de uma dor
eles não correm
percebem
o acolhimento da magoa

Cúmplices de um sorriso
eles não gargalham
escondem
o segredo da piada

Cúmplices da lágrima
eles choram
guardados
não transbordam nada

Um dia
um pedaço se desloca
solto no universo
a cumplicidade aterrada

De olhos fechados
percorrem três estradas
com os dedos abertos
se tocam de boca fechada

A extensão de um corpo
não sobrepõe os braços
alongam-se lânguidos
pela posição mais acertada

Amanhã
pode não haver cumplicidade
os encontros são feitos de agora
e mais nada.


Entrega

Na descida
vejo melhor
a mata
que nasce nas águas

vidas, minas

à neblina
minha entrega
tato, sentido mais fino
na cegueira branca de um ensaio

Nas pontas dos dedos
fricções de um mundo
fugido
imaculado

à aspereza da descoberta
lingua ferida
de gatas
da pátria

Punhos soltos
ossos no chão
e a entrega
no cerrado

Semente na boca do peixe
mata nas rachaduras
estrias abertas
a entrega, um portão

Ao final da ponte
um terremoto
não se volta
a entrega não cabe na nuca

Não posso, não posso
um passo pra trás
penhasco
com o bebê no colo

Roupa pendurada
galho balançando
linha tênue
a entrega respira

A lua escondida em lágrimas
fecha o tempo da espera
entrega tudo
que o sono entrega a palavra.

Folhas

Mais um inverno
a lata cheia de folhas
quando passará o lixeiro?
Esvazia.

Nunca sei quando ele vem
nem ouço seu caminhão
sei na manhã
que a primavera saiu

Meio bruxa, vejo tudo
meio mulher, me invadem
meio bicho, devoro
as folhas ainda estão lá

Folhas nas paredes
produção de raízes
entrecortadas por delírios
nós nas pontas

Lata vazia
pisco com a tampa
lata cheia
folhas antigas, amareladas.

Não há fatos
folha-afeto
folha-efeito
sementes enterradas

Minha ontologia
a nossa também, eu sei
quem está aqui?
quantos homens?

Marcas
das garras na parede
resquícios de lutas
descolar o corpo das unhas

A lata tá na rua
não vejo folhas caírem
não sei sobre o caminhão
cada dia uma paisagem

Eu vejo agora o verão
regulo a entrada de luz
implacável
às imagens.