segunda-feira, dezembro 25, 2006

Atiraste uma pedra


"Atiraste uma pedra
No peito de quem só te fez tanto bem
E quebraste um telhado
Perdeste um abrigo
Feriste um amigo
Conseguiste magoar
Quem das mágoas te livrou
Atiraste uma pedra
Com as mãos que essa boca
Tantas vezes beijou
Quebraste um telhado
Que nas noites de frio
Te servia de abrigo
Perdeste o amigo
Que os teus erros não viu
Que o teu pranto enxugou
Mas acima de tudo atiraste uma pedra
Turvando essa água
Essa água quem um dia por estranha ironia
Tua sede matou"

Doces Bárbaros

sábado, dezembro 23, 2006

A vida pesa


Sábado, um dia antes do Natal; Portugal, Lisboa, frio, solidão. A vida pesa, pesa alguns quilos a mais do que outrora. Meu corpo está magro e fino, está sujo e sem cor; minha cara pálida e séria.
A vida pesa.
Parece que estou dentro de um túnel escuro. Tenho a certeza, ou pelo menos a esperança de que existe uma luz no fim, mas o que mais me aflige é que eu não a vejo, não a consigo apalpar com os olhos. E isso vai me causando um corroer dos orgãos. É como a morte. Sabemos que ela existe, mas nunca sabemos nem podemos prever quando ela virá te buscar. Mesmo os mais aflitos que resolvem chegar até ela, mesmo eles, não sabem o seu preciso momento. É um estágio que não se passa, atravessa.
Sei que a vida vai se tornar mais leve, mas não consigo nem prever nem antecipar este momento. E as vezes dá esta angústia de querer que chegue logo. É como quando crianças, esperamos o papai noel, sabemos que ele vem, mas nunca chega. Acontece que eu sei qual é o setimento de quando ele chega, essa é a diferença. Ainda estou dentro do túnel e por isso não sei o sentimento de encontrar a luz, mas estou ansiosa por ele.
Isso pode ser visto como um ponto positivo para a minha caminhada, o fato de sentir que a vida vai se tornar mais leve, mas o fato de não sabermos quando este dia chegará é um sentimento absolutamente inexplicável de tão forte e intenso. E isso faz com que o fato de sabermos que há uma luz seja absolutamente irrelevante, isso significa que aquele ponto positivo que acabei de ganhar no início do parágrafo seja retirado da minha caderneta.
A vida é mesmo infantil. Tudo o que vivemos na infância, desde a espera do papai noel até a vida sendo controlada por pontos positivos e negativos, tudo isso faz parte de toda a vida. E assim crescemos e temos os mesmo problemas, com uma grande diferença, quando se é criança, pode cair o mundo, mas a vida nunca, nunca vai pesar.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

O amor não é cego....


Confesso que durante estas tardes-noites que tenho passado, muita coisa tem entrado e saido da minha cabeça, muita coisa mesmo, que ela chega a fever em alguns momentos.
Nestes dias tenho visto e revisto alguns sentimentos e paixões. Talvez todo esse choque que vivo agora, tudo isso, entre desamores, solidão, saudade, impotência, medo, resume-se em uma palavra: falta. Estou vivendo o choque da pura falta. E por conta disso, vou ficando mais fria, mais dura, menos romantica, menos jovem, resumindo-se em: mais falta.
É por isso que cada vez mais o Artaud faz mais sentido pra mim, assim como quem me ensinou a gostar de Artaud. É que a luta dele pela sobrevivência começa a fazer agora eco. É mesmo duro sobreviver com tantas faltas de liberdade. O juizo de Deus esta realmente instaurado. O egoismo tornou-se um sentimento inato. E viver contra tudo isso é ser louco, é estar louco.
O corpo sem orgãos faz-se mais necessario. Agora entendo realmente o que significa o esvaziamento, ele é por demais doloroso.
E ainda sim, ainda com todo este sofrimento, com todas estas dores e desilusões, ainda sim amar é a unica saida e caminho viavel para que esse novo corpo que se constrói possa ser atravessado pelas melhores intensidades.
Alguns dirão que eu tudo isso, é porque vivo uma desilusão amorosa, mas mais e mais vou percebendo que nao se trata disso, e se trata também disso. Mais e mais o cartesianismo me enjoa e enerva, porque ele é burro. Trata-se tão simples quanto complexamente da totalidade do corpo. Ele é um só e assim que ele deve ser tratado e cuidado, o bom e verdadeiro cuidado de si.
Salve Artaud!!!!!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Salve Antonin Artaud


Preciso escrever alguma coisa para que ela saia do meu estômago. Poderia estar escrevendo em um papel e uma caneta, mas é impossível encontrar qualquer um destes objetos dentro do meu quarto. Minha vida está caótica.
Artaud sempre esteve certo em mostrar o que se passa no estômago. Minha cabeça não pára, mas meu estômago doi, literalmente doi. Não é dor de barriga que faz com que pelo menos alguma coisa saia, é a dor do músculo do estômago de tão entranhada que é.
O frio ajuda com que eu trema mais e mais, e o músculo as vezes acaba por não mais doer e se reduz a pó.
As vezes penso que isto poderia estar acontecendo no verão. Embora eu não goste muito de calor, confesso que sofrer no frio é um pouquinho mais desesperador. Sair e congelar, ficar em casa e congelar. O melhor é estar lá e cá, assim a cabeça não para de tão lenta, ou quebra de tão rápida.
Confesso que estou tentando ...... ir parar onde que eu ainda não sei, mas tenho medo. Engraçado que o lugar que eu me sinto melhor e mais protegida é debaixo do meu endredon, na minha cama, no meu caótico mundo-quarto. Pela primeira vez tenho medo e só tenho a mim, e a cama é a minha, não de nenhuma outra.
Talvez essa viagem toda - porque na verdade tudo isso é uma grande viagem, tenho toda certeza de que estou em uma - me sirva pra alguma coisa...
E o pior é que todas as pessoas dizem que isso vai ser bom pra aprender e que o sofrimento faz parte da vida. Pra todas estas pessoas eu só digo uma coisa: Vão se fuder!!!! Não desejo isso pra ninguém!!!! Hipócritas de merda!!!! Faz bem pro crescimento??? Então vem cá você sofrer!!!!Sociedade hipócrita e medíocre, a sociedade do anti-depressivo e do viagra, não necessáriamente nesta mesma ordem!!!!!

Salve Antonin Artuad!!!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Dia cinzento

As vezes, por mais que o céu não nos apresente nenhuma nuvem e deixe que o Sol se sobresaia, nem é necessário sair de óculos escuros à rua. Talvez um guarda-chuvas, pois parecer que vai chover, e muito....e chove, e muito....

O bom, é saber que podemos sempre ter o nosso porto de chegada, que já foi um dia de partida, mas que nos diz: sempre vou estar aqui, mesmo depois de morrer, lembra que nós combinamos né....

O artista é aquele que faz, seja noite ou seja dia, chova ou faça sol, pois a inspiração funciona sempre de dentro pra fora e não ao contrário - por mais que as pessoas achem que toda ação é fruto de uma reação. O artista não reage, ele age. Não se entrega, a não ser para a precoce morte. Um ato de coragem, de resistência.

Um bom dia (para mim)

terça-feira, dezembro 12, 2006

Tiempo Suspendido

Na semana passada eu encontrei um livro que, desde a criação deste blog, foi o que mais causou-me o sentimento de interlocução com o título do mesmo. "Tiempo Suspendido, fotografia sobre la ruta de Antonin Artaud en la Sierra Tarahumara" de Pedro Tzontémoc.
Ele publicou um livro de belas imagens da Sierra Tarahumara. Fez o mesmo percurso que Artaud 50 anos depois. Artaud foi outro homem depois desta viagem por uma tribo mexicana. Pedro não quis ser Artaud, mas experimentar. Aqui vai um trecho deste belo livro.

"Antonio Artaud nació en Francia
cuando ya era un hombre adulto
se desilucionó de su hermoso querido país.

Su cultura después de muchos trabajps
dificultad para conseguir dinero
pudo venir, a Méxio para conocer.

Para conocer a los Tarahumaras
porque el creía eran una raza pura
que alejado estaban de la civilización.

Siempre tendría una fiel verdad
para combatir su triste enfermedad
quería doctores Tarah le enseñaran sus secretos.

Llegó a la sierra camino de Bocoyna
de Cusárare a Nararachi llegó
y de ohí llegó hasta el mero pueblo Norogachí.

El buscada descubrir y ver los ritos
las danzas del tútuburi tarahumara
sobre dodo quería, Tarah doctores de verdad.

Artaud quería que lo curaran
por medop de la danza del peyote
cuando lo probó, 3 diaz fue muy feliz.

28 diaz caminó a pie
12 diaz tuvo que esperar
para que los Tarah le enseñaran sus secretos.

Por fin lo dejaron ver un tutuburi
cuando vio bailar a los tarahumaras
el pensó eran hijos de los de la Atlantida.

Antonio Artaud también se impresionó
con las piedras que hay en esta sierra
con las huellas marcadas,
que hay en esta Sierra Tarahumara.

Con las formas de hombres y animales
el pensó que no era causalidad
sus ojos descubrieron, una nueva realidad.

Los Tarah lo curaron con el peyote
cuando lo probó 3 dias fue muy feliz
pensó con mas fuerza que los raramuris tenían la verdad.

Artaud regresó a su país a Francia
para platicar lo que en la sierra vivió
y decirles a todos que la verdad estaba en la Tarah.

Nadie le creyó. Considerazon estaba loco
entonces lo encerraro en un manicomio
era una casa donde estaban todos los locos.

Le dieron toques elétricos en la cabeza
pastillas y poca comida le daban
con falsas curaciones, pero así poco a poco murió.

Artaud decía que esa curación
estaba my lejos y era muy diferente
de como curaban los Tarah con el peyote.

Antes de morir Antonio se puso los zapatos
para regressar a La Sierra Tarahumara
para buscar quien lo curara de verdad.

Murió llevando un misterio a la tumba
murió soñado en sus hermanos tarahumaras
murió soñando en toda la Sierra Tarah.

Quiso dar a conocer lo que en la sierra vivió
pero sus paisanos no creyron la verdad
cruelmente fue atormentado sin consideración.

Quiso dar a conocer lo que en la sierra vivió
pero sus paisanos no creyron la verdad
cruelmente fue atormentado sin consideración."

Erasmo Palma,
Norogachi, Chih., 6 de junio de 1992.

"El anciano jefe indio vino a abrirme la conciencia con una cuchillada entre el corazón y el bazó: Tenga confianza, me dijo, no tenga miedo no le haré ningúns dano" y retrocedió tres o cuatro pasos muy aprisa, y tras hacer que su espada descrebiera un círculo en el aire por el pomo y hacía atrás, se precipitó sobre mí, apuntándome y con toda fuerza, como se quisiera exterminarme. Pero la punta de la espada apenas me tocó la piel y sólo brotó una gotia de sangre. No noté ningun dolor, pero sí tuve la imprensión de despertar a algo con respecto a lo cual hasta entonces era yo un mal nacido y estaba mal orientado, y me sentí colmado por una luz que nunca habia poseído".

Antoni Artaud, em seus diários da viagm realizada à Serra Tarhaumara.