quinta-feira, janeiro 18, 2007

Escrita feminina


"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntas, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreberta: elas respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água delas. Andavam por ruas e ruas, falando e rindo, assim davam peso a levíssima embriaguez que era a alegria da sede delas. A boca ia ficando mais seca de admiração. Como admiravam estar juntas.
Até quando tudo se transformou em não. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ela procurava e não sabia e ela não via que ela via a tudo. E no entanto as duas não estavam, mas ali estavam. Tudo errou e ainda havia a poeira das ruas. Quanto mais se distanciavam com mais aspereza se tinham uma a outra. Sem um sorriso. E tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídas... só porque de súbito se punham na tolice do medo precipitado. Estavam exigentes e duras. Tudo porque agora era tarde e já eram tudo o que um dia quiseram ser. Foram então aprender que não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso dormir fora para que a carta chegue. E quando o telefone finalmente toca, o desejo da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraidas...."

" Debruça-te sobre a tua casa e a tua mulher. Pergunta no mais profundo de ti, no teu abismo, se é maior teu espaço de amor ou maiores os medos, esses rigores, a ti te proibindo. Tua amiga incorporada ao teu próprio destino. Não cabe medida quando se trata de desejo e amor. Dessa coisa incontida que é o amor. O coração amante se dilata. O preconceito? Um punhadinho de sal num mar de nós duas"

"Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é verdade que nunca me soubeste?"


Diana Tavares, Clarice Lispector e Hilda Hilst (não necessariamente nesta ordem)

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