terça-feira, junho 03, 2008

Cotidiano violento na pastelaria


Seis horas da manhã. O despertador impunemente grita. É hora de acordar. É hora de sair dos lençóis da cama de solteiro e se vestir para mais uma jornada, para mais um dia como todos os outros que se passaram. Alice não sabe mais como suportar essa degradante coisa que é o seu próprio cotidiano, mas suporta, pois já não tem mais forças para tomar uma atitude.

Quantos anos já não levava aquela vida, trabalho casa, casa trabalho. Todos os dias faz a mesma coisa, acorda, toma seu banho frio, se veste e sai em direção à pastelaria onde de segunda à sábado ela entra, abre a porta com as chaves que seu chefe lhe confiou, lava o chão, limpa os banheiros, prepara todos os doces e salgados nas vitrines, liga a máquina de café e faz diversas outras atividades, todas elas da mesma forma que já faz há 10 anos, antes de abrir a porta para os clientes, que já as oito da manhã começam a chegar.

As oito chega o primeiro cliente. O Senhor Joaquim Antunes, que já há muitos anos, antes mesmo de Alice ser contratada para a pastelaria Sonho de Verão é sempre o primeiro cliente. Ele entra com seu jornal do dia anterior, pede uma bica cheia e um pastel de natas e senta na mesa do fundo à direita. Fica ali das oito, até as nove, se despede de Alice e vai embora.

Depois começam a chegar os outros clientes, são trabalhadores da região, são estudantes que moram perto, são as senhoras e senhores já aposentados que vão se encontrar na pastelaria e tomar o pequeno almoço juntos.

O dia vai passando, os salgados vão chegando ao fim, os doces das vitrines passam de apetitosos a velhos, os cafés passam a ser descafeinados e Alice, esta mulher apática não passa nada, nunca passou e não seria agora que aconteceria esta reviravolta.

Volta pra casa abatida, desesperada da vida, para se preparar para mais um dia de pastelaria.
Que inferno de vida!

Sem comentários: