terça-feira, outubro 03, 2006

CANTARES XLVII


Dorme o tormento
O Eterno dorme suspenso
Sobre as idéias e inventos

Só eu não durmo
Pra te pensar

Dormem perjuros
E vanidades e urnas
Dormem os medos
E califados e ventres
Dormem ardentes
Os loucos, pátios adentro

Só eu não durmo
Pra te pensar

Dormem ativas
As dobradiças
De mil bordéis e conventos

E pêndulos dormindo ao tempo

Só eu não durmo
Pra te pensar

E agora escura
Do jugo dos sentimentos
Irreversiva, suicida
Tateio aquele rochedo
Do ódio de desamar

Hilda Hilst

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