segunda-feira, outubro 09, 2006

Diário de André (VII)


(Escrito com a mesma letra à margem do caderno, tinta diferente: Tantos anos passados, e eu ainda não esqueci. Amar, amei outras vezes, mas como se fosse um eco deste primeiro amor. Não são pessoas diferentes as que amamos ao longo da vida, mas a mesma imagem em seres diferentes. Também me desesperei de outras vezes, até que agora me desesperasse não mais do amor, mas do fato humano. E agora que este pobre caderno veio novamente ter às minhas mãos, entre outros restos desta casa que não existe mais, digo a mim mesmo que realmente não há grande diferença entre aquele que fui e o que sou hoje - só que, com o tempo, aprendi a domar aquilo que no moço ainda era puro desespero; hoje, calado, sofro ainda, mas sem aquela escuridão que quantas vezes me atirou contra as quatro paredes de mim mesmo, enfurecido - e que no seu desvario era apenas a tradução adolescente dsesse fundo terror humano de perder e ser traído, que nos acompanha, ai de nós, durante a existência inteira)
Lúcio Cardoso, em A Crônica da Casa Assassinada

Lembro-me do dia em que ouvi este trecho pela primeira vez. Minha querida amiga Giovana Salerno leu sentada no sofá lá de casa. Estávamos em uma época feliz de nossas vidas, não foi?
Espero que todas vocês estejam bem, pois é desta forma que me sinto agora. Mesmo que longe, sempre nos saberemos.

1 comentário:

A disse...

muito bonito esse trecho.
beijo grande e até já ;)