segunda-feira, dezembro 20, 2010

C E R R A D O - A V I D A


C E R R A D O.

I

Flor,

tive que pegar na caneta, desculpa se te borro.

Estranho não te ver

quando os pedaços são seus

Aqui dentro, gozo.

Te levo no meu sonho

onde o galope é meu

e posso voar.

Num tempo que nem conto,

sem ponteiros, só o sol.

Te vejo, sempre

a entrar pela porta do quarto.

Os pássaros só sabem cantar

e as nuvens só sabem mexer.

Assim a cabeça não pára

no lugar errado.

E eu te borro

com tons pastéis.

Vira a pintura

que existe agora dentro de mim, vira!

II

Perto do mato,

não temo os bichos,

os homens da cidade

causam-me calafrios.

Jogo-me nessas paredes

que meu corpo encontra.

Queria você aqui,

sinto seu cheiro ao fim da tarde.

Vou te tocando pelas beiradas

pelas frestas do espaço

confesso tudo em silêncio

e sua ausência me basta

Agora, neste fim de sol

na varanda do seu Claro

vejo a vida passar

um tempo de cada vez

E te quero, como eu te quero

neste tempo sem ponteiros

nesta simplicidade de existir

que só você e a natureza podem me dar.


III

As nuvens vão se juntando

e aos seus pés o barulho das gotas.

Quase que me desespero com o silêncio

mas as notas formam-se no ar.

Neste silêncio dos acordes,

realizo um sonho adolescente

andar sem rumo

nem discórdia.

E lá você está

nua a minha espera

libertando o pudor

que sua vida te dera

E vamos num galope

nos meu sonhos pelo cerrado

tocar as estrelas, assim

conforme o combinado.

IV

E agora parto

para mais um dia de mato

durmo no regaço

da minha bagunça infinita

Acordo nos acordes

ando onde há espaço

sinto a escuridão da noite

é hora de recolher as tralhas

Para amanhã juntar

tudo numa mala

e andar pelo silêncio,

dos pés e das águas

Mais um dia de solidão

mais um dia de espaço

o tempo não veio

só veio o meu verdadeiro amor.

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