C E R R A D O.
I
Flor,
tive que pegar na caneta, desculpa se te borro.
Estranho não te ver
quando os pedaços são seus
Aqui dentro, gozo.
Te levo no meu sonho
onde o galope é meu
e posso voar.
Num tempo que nem conto,
sem ponteiros, só o sol.
Te vejo, sempre
a entrar pela porta do quarto.
Os pássaros só sabem cantar
e as nuvens só sabem mexer.
Assim a cabeça não pára
no lugar errado.
E eu te borro
com tons pastéis.
Vira a pintura
que existe agora dentro de mim, vira!
II
Perto do mato,
não temo os bichos,
os homens da cidade
causam-me calafrios.
Jogo-me nessas paredes
que meu corpo encontra.
Queria você aqui,
sinto seu cheiro ao fim da tarde.
Vou te tocando pelas beiradas
pelas frestas do espaço
confesso tudo em silêncio
e sua ausência me basta
Agora, neste fim de sol
na varanda do seu Claro
vejo a vida passar
um tempo de cada vez
E te quero, como eu te quero
neste tempo sem ponteiros
nesta simplicidade de existir
que só você e a natureza podem me dar.
III
As nuvens vão se juntando
e aos seus pés o barulho das gotas.
Quase que me desespero com o silêncio
mas as notas formam-se no ar.
Neste silêncio dos acordes,
realizo um sonho adolescente
andar sem rumo
nem discórdia.
E lá você está
nua a minha espera
libertando o pudor
que sua vida te dera
E vamos num galope
nos meu sonhos pelo cerrado
tocar as estrelas, assim
conforme o combinado.
IV
E agora parto
para mais um dia de mato
durmo no regaço
da minha bagunça infinita
Acordo nos acordes
ando onde há espaço
sinto a escuridão da noite
é hora de recolher as tralhas
Para amanhã juntar
tudo numa mala
e andar pelo silêncio,
dos pés e das águas
Mais um dia de solidão
mais um dia de espaço
o tempo não veio
só veio o meu verdadeiro amor.
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