quinta-feira, fevereiro 24, 2011

D E R E P E N T E









De repente.

Passei a me ver no outro dia, e não gostei muito do que vi. Aquela história de que o passado não muda, me bate na janela e fala para eu deixar de tentar mudar os fatos, porque eles já estão dados, já foi tudo feito. Sinto nojo de mim por dentro de você e isso me assusta. Queria me jogar dentro do sol.

De repente.

Uma certa tristeza assola minha manhã, acordei com os olhos acumulados. Já não posso nadar contra as ondas, ou o mar vai me levar para a ilha deserta de mim mesma. Chove por dentro, e poder tirar esta capa por entre minha pele e meu osso, é mais do que um ato de coragem, é uma tentativa de derrubar essa coisa que inventei pra me distrair, e que agora só me deixa atenta e dura. Queria que a água salgada deste grande mar escorresse pelos meus buracos. O céu está carregado de cinza, quem sabe chova tanto que arranque de dentro de mim alguma gota.

De repente.

Quero correr tanto que não tenho forças pra escolher os sapatos. Meu corpinho está tão mole, tão sem vida, tão sem força. Tenho vontade de largar ele por aí, e pegar outro na loja de manequins. Um bem forte, bem moço, bem feminino, um bem vazio, e encher de balas e doces. Depois pegar um punhado de pedras e jogá-las com tanta força, como se brincadeira de criança fosse. E ver os olhos jogados no chão, espatifados. Ficar só com os outros sentidos.

De repente.

De repente.

De repente.

Amanhã acordo e vejo que tudo não passou de um de repente, um se, e desisto de estar nesta malemolência que hoje está me deixando absorta, revolta.

De repente.

Tenho vontade de me masturbar para provar pra mim mesma que fazer amor comigo é gostoso. E não sinto nojo, não fico em dúvida no meio dos dedos pelos grandes lábios. Mas sim, o grito será seco, e ao invés de gotas de gozo escorrerem pelas minhas pernas, uma única gota de sal escorrerá pelo meu rosto, descendo vagarosamente até molhar meus pelos pubianos e confundirei de onde é que vem mesmo o prazer, se do espelho ou das costelas aparentes nessa magreza do meu coração.

De repente.

Eu não queria ter dito nada disso, e o tempo me convence de que de repente, já está tudo feito, e agora sofre com calma pra desfrutar as novas canções.


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