sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Aula de documentário em 2008.

Toco no branco do papel com os dedos cheios de tinta; observo os movimentos da folha com o vento do norte; e caminho. Caminho sem destino por essa leve mistura de cores e sorrisos que me seduzem. Chego em casa, e afinal, minhas pernas tinham destino, mas minha cabeça ainda vagueia nas imagens da memória desse quadro que ainda não pintei.
Convulsiono de Desejo. Será que já teorizavam os sexólogos que à beria dos 24 anos sente-se muito desejo? Ou talvez a minha mais ou menos precoce vida amorosa, que agora encontra-se na mais inédita solidão, anseia, por corpos que ardem e suam e tocam e pingam? E que adormecem no seio do cheiro do sexo.
Não consigo concentrar-me a não ser nesses gritos que bramam por todo meu corpo e que agora conseguem sair silenciosamente pela tinta da caneta. À minha frente há um homem a falar sobre o documentário inglês dos anos 30. Apenas nomes ecoam e os que consigo escrever são do Flaherty e do Grimson, mas não sei mais nada, pois o húmido e quente que sinto entre minhas pernas não me deixa pensar em nada, absolutamente em nada que não seja sair daqui e a correr para casa e me masturbar até cansar.
Pareço louca, sórdida ou adolescente? Talvez eu seja esse conjunto; esse Uno de Heliogábalo Anarquista que se compreende através dos múltiplos. Prefiro ser tudo ao mesmo tempo; quero que me chamem nomes, que me chinguem dos palavrões mais medonhos que existem, que sou tudo isso. Dou-lhes razão; sou puta, louca, safada, sou.
Acho que já não posso mais suportar este homem a falar na minha frente, mas também se vou para casa fico preocupada que o tempo não está a passar e que não vou conseguir dormir porque meu corpo está a arder, sinto-me febril; tenho suor nas mãos e nas axilas.
Tenho a minha volta exatamente 25 pessoas, contando com aquele homem a frente. E agora passa pela minha cabeça, e se eu de repente desse um grito altista? Ia ser engraçado, as pessoas chamariam-me de doida e eu adoro, adoro como gelado de morango com cereais após o jantar.
Estou praticamente a ter um orgasmo sem sequer me mexer, ou apenas abanando as ancas para os lados. Me vem à cabeça a cena do André no "Lavoura Arcaica", àquela primeira cena em que ele masturba-se ao som do comboio. Fecho os olhos e o André está mesmo ao meu lado. Queria unir-me a ele no grito desabado deo desejo, mas as 25 pessoas me inibem. O que chocaria mais essas pessoas; aquele grito altista, o grito desbado após a masturbação, ou o grito de dor ao cortar-me toda; ou ainda o grito de vômito; ou o grito do meu cú a cagar em frente ao ecrã no fundo da sala? Dava uma boa aposta sem dúvida. Como acho que não consigo fazer todas essas coisas ao mesmo tempo, deixo a aposta para outra ocasião.
Acho que vou sair daqui e fumar um cigarro, quem sabe esses devaneios desapareçam, quem sabe...

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