segunda-feira, abril 13, 2015

Folhas

Mais um inverno
a lata cheia de folhas
quando passará o lixeiro?
Esvazia.

Nunca sei quando ele vem
nem ouço seu caminhão
sei na manhã
que a primavera saiu

Meio bruxa, vejo tudo
meio mulher, me invadem
meio bicho, devoro
as folhas ainda estão lá

Folhas nas paredes
produção de raízes
entrecortadas por delírios
nós nas pontas

Lata vazia
pisco com a tampa
lata cheia
folhas antigas, amareladas.

Não há fatos
folha-afeto
folha-efeito
sementes enterradas

Minha ontologia
a nossa também, eu sei
quem está aqui?
quantos homens?

Marcas
das garras na parede
resquícios de lutas
descolar o corpo das unhas

A lata tá na rua
não vejo folhas caírem
não sei sobre o caminhão
cada dia uma paisagem

Eu vejo agora o verão
regulo a entrada de luz
implacável
às imagens.

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