terça-feira, abril 26, 2011

DIA DE NASCIMENTO

Será que dava pra ter nascido ontem? Porque hoje o mundo está desabando sob meus pés, assim ao contrário, de baixo para cima. Embora ainda não esteja sentindo minhas pernas, embora esteja carregando todo o mundo sobre os ombros, no peito; a implosão vem das estruturas, das minhas vigas.
Hoje, que queria ter sido ontem, já não posso ser amanhã. Não guardo rancores da vida, dos amores. Só que agora não queria guardar nada. Poder comemorar todo dia um novo nascimento, o meu. Junto de mim não há ninguém, porque eu quis que fosse assim. Só, no alto da montanha, sinto falta; de ar.
As vigas que não são metálicas, feitas de emoções, de lembranças, memórias, desmoronam, derretem. Sou de ferro fundido, fudido, velho.

Hoje não quero falar, não quero ser, não quero ter. Só as lágrimas que agora já não se acumulam, percorrem todo meu corpo. É quase como apertar a ferida da perna para sentir a alegria da dor, choro, escorro, forço. Força que precisa sair daqui, de dentro de mim, de dentro da minha casa.
Busco espaços livres, e já estou lotada, chego a querer ter vivido menos coisas. Sinto o corpo acumulado, cheio. Preciso de vazio. Quero amar de novo, mas para isso, preciso matar meu coração, espremê-lo, chutá-lo até a outra margem da estrada. Construção. Implosão para construir. Quero parir um novo orgão, bem novinho, bem vazio, para que eu possa enfim descansar em paz, pois afinal o sangue novo circula nas artérias e o ar, que faltou no cume da montanha vai encher meus novos pulmões e vou descer até a cidade, onde vão nascer os novos amores.
E você, já não vai existir. E nós, seremos outros, e a folha viajará pelo parque chamado VIDA. Estou tentando ser outra, juro que estou. Quem sabe dessa vez, você goste de mim, e quem sabe mais tarde, ainda, eu já não goste de doce. Só que na verdade, nada disso vai mais importar, porque seremos outros.

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