sexta-feira, abril 29, 2011

CANTO ESPREMIDO

Tenho o corpo espremido pelas extremidades. Desejo controlado trava a coluna, os ombros levantados como sobrancelhas de preocupação. Medo do toque, da pele, do humano. Encolhendo tudo pra não ter tato na ponta dos dedos, pra não ter palavras de amor, declarações soltas pelo ar, vontades indesejadas. Ou são desejadas?


Enfiar agulhas pelos poros, pra sair gás lacrimogênio pelo buracos todos. Vontade de ir embora, dessa casa, dessa cidade, desse lugar. Preciso ir, desculpe. Quando eu voltar, com o corpo mais mole, com vontade de não tocar, talvez tudo fique mais calmo. Mas é que me sinto muito espremida; é essa casa, são essas mesas, essas pessoas que lotam a cidade, os transportes, os meus sentimentos todos. Acuada como bicho solto de medo do homem, fujo.


É isso mesmo, vou fugir dos meus problemas porque não quero enfrentá-los. Não quero bater de frente com esse muro branco que sou eu própria. Fujo pela criação de uma nova vida.


Corpo espremido
nas extremidades
do desejo, do toque
que arde como ferro

Encolhendo os ombros
pra não tocar os dedos
nas palavras, declarações
vontades indesejadas

Abrir os poros
enfiar agulhas
nos buracos todos
e liberar o gás

lacrimogênio
chora o tempo
vontade de ir embora
da casa, da cidade

Queria voltar depois
quando o corpo
mais terno e mole
pudesse tocar as notas




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