segunda-feira, abril 11, 2011

OLHOS D'ÁGUA

I
Menos ar
olhos secos d'água
todo o sal do mar
amontoado nas pálpebras


Ve-se menos a linha
horizontal das relações
ve-se mais círculos
viciados


Pegar uma tangente
viajar nas setas do mar
deixar a onda bater
e levar para o triângulo


Será?
parece que respiro melhor
mais húmido
mais humano


Mesmo que não se chore
mesmo que não se chova
mesmo que calados
estes olhos d'água


Já tão embaçados
a neblina virou lente
o coração virou orgão
e meu amor não virou nada.


II
Conta quantos dedos
aparecem na janela
quantas pessoas
amontoam nela


Vejo a tua cara
vestida de rosto
teu seio
de pedra

Se choro
já não canto
de canto
choro no vagão

Sons me trazem
águas das ondas
choro, choro
e o metrô cheio

Ninguém dá por isso
só se pensa em chegar
mas onde se vai?
Guardar as águas

E já não quero
o que?
já não penso
ser, saber

Sei lá,
hoje quero chorar
até cansar
e ler poesia na cama.

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