domingo, outubro 23, 2011
RAIO DE SOL
palpites de mega sena
é só pra sonhar
com alguma coisa estranha
Mas afinal
o que é bom?
Em que tempo
se dão as coisas?
No ventre de um sentimento
na minha face
acuado entre as pernas
por de baixo do travesseiro
As coisas se dão a todo momento
e no meu peito, curvado
nasce uma forma
pra onde se vai?
Em que casa viveremos?
Estações partidas
em trens fora dos trilhos
vagões de ilusão
aqui, há um corpo
Que se fecha
como a vida das plantas
e desabrocha
pra qualquer raio de sol.
segunda-feira, outubro 17, 2011
CASA DAS HORAS
no final, eram só as horas
pedindo passagem
pro coração-barreira
Ela não sabia,
que o pedido,
eram os pedaços
os retalhos
E constroem-se casas assim?
De resto de horas?
Por falta de atenção
a varanda ficou torta
E a água acumulou-se
do lado esquerdo do coração
enchente de ponteiros
perdidos, marcando o passo
Talvez a casa móvel
de novo seja o porto
fazer o próprio tempo
inteiro, num pedaço só
Assim não falta nada
covarde, de novo
mal amada
Amor, só distraído
na praia
por poesia
esquecido
Não vai haver casa
enquanto não tivermos tempo
pra saber que o outro lado
é só mais um dos nossos inventos.
segunda-feira, outubro 03, 2011
S A L T O
Minhocas no tampo
cobras em curvas
corpo paralisado
Cortes fechados
ainda jorram sangue
amedrontados
corações saltam
Saltos para?
Saltos de?
Vai ou foge?
Pavor!
Calça de pijama
azul-claro-aflanelado
calor por favor
mudança de registros
Troca, novo
criação, radioatividade
tamanha força
da mudança de particulas
Então senta
olha para
aceita a forma diferente
você é outra
Salta, salta, salta
do barco na tormenta
mas cai sem quebrar nada
num pouso macio.
sexta-feira, setembro 02, 2011
P O R O S I D A D E
átomos que ocupam
todos os poros
da velocidade do pensamento
Química. Quebra de substâncias
espada cortante
do samurai-cavaleiro,
ou era arco? Sim! O arqueiro
Fatia-se escamas
os acontecimentos do agora
a cada hora
o tempo amansa
E a alegria avança
E a dança,
nova criança
De perto desapareço
e tranquilo o corpo dorme
já não se volta,
nem por qualquer homem.
quinta-feira, agosto 04, 2011
VONTADE DE IR PRA CHINA
minhas mãos tremem
e já nem sei porque
inventei algum terremoto
Vontade de que?
morrer de novo?
solidão por favor me abraça
e dorme comigo sem pirraça
No espelho já não reconheço
nenhuma parte do meu corpo
nenhum toque do meu esforço
que há tempos lanço ao mar
E o Tsunami arrasa
minhas pilastras
minhas vontade de ser melhor
ecos de medo me assolam
Partir? Pra onde?
Talvez pra China
ser estrangeira
não mexer a língua.
Ficar imóvel
como estátua de bronze
e passar o chapéu em busca
de esmolas de amor.
Mandarim, beijos
de olhos orientes
sangues pelas fendas
paredes de cimento movediço
Enterro então os pés
e o cimento vira pedra
meu coração?
apenas uma alga
que vai e vem
com o movimento
da natureza
e entope as veias
da vida
que só queria que fosse
líquida.
sexta-feira, julho 22, 2011
LAMENTO
espumas de sal e suor
que trabalho dá pensar
e ser o acontecimento
Tenho acontecido
produção de cotidianos
sou humana
não sou humanista
Vês, o laborioso ser?
Vês, no que me transformei?
Prender os pedaços do já
pra não torná-los ontem
E a vida escorre
sem dar chance aos fracos
nem os buracos
do entendimento
Espelho d'água
no vidro vazado
outros ecoam em mim
saídas de emergência
Compulsão,
até pela poesia
pulsação
até nos cadarços do sapato.
METRO DAS NOVE
trêmula, a mão executa
portas se abrem
ninguém sai.
Luzes brancas; éter
várias cores, várias caras
uns de pé, outros dançam
tempo por trilhos
Conversas, cabelos
bolsas, unhas feitas
mapas, imagens velozes
bolor nos corredores
Partida e ponto final
retorno para o início
de um lado ao outro
do outro para um lado
Olhares perdidos
ninguém vê nada
momentos vazios
mergulho em si
Perto da partida
corpo atento
ao badalo da voz
se vai, trocar de trem.
segunda-feira, julho 04, 2011
ACIDENTE
das costelas engasgadas
a cabeça do tamanho da casa
o carro na contramão
Detesto jogos
de pessoas estranhas
mentiras medonhas
pra que mesmo?
Vou cansar desta história
medíocre, alinhada, parva
sou melhor do que pensa
tenho mais vontade de ser intensa
É isso mesmo que você quer?
vou embora, vou ser mulher
o sonho me avisou
que afinal não sou o seu amor
Que enfim, quero o que não tenho
que tenho o que já talvez não queira
e tudo vai passar como fonte
e pegar as armadilhas, inteiras
Me afasto de histórias mal contadas
a minha história, eu invento, eu conto
já não quero a arrogância, de mulheres bestas
sou muito melhor, porque sou a primeira
Te dou então a última noite
a terceira dança, derradeira
aproveitar o tamanho das coisas
ser tudo em apenas um segundo
Desligo então os aparelhos
vejo, mastigo, percevejo
será, que você sabe do risco?
Fui, já não vai haver perigo
RECUPERANDO MEU CORPO
dobras, pontas
perder-se nas retas
encontrar fundos, funduras
Roupas perdidas
nas casas amantes
arcos de memória
lancinantes
Rude, roda, rua
afetos misturados
prazer, dor
cansaço
Falta de ar
medo de não amar
de novo
mais um pouco
Se jogar nos tempos
andar no meio fio
nadar até a margem
correr pelas águas do rio
E quem sabe um dia
eu ainda pegue
uma corrente
viva a nossa história
Sonhos, que perdem-se
na vigilia dos acordados
que embrenham-se no peito
destes amantes mal cuidados
Então lentamente passa
cicatriz fica no coração
e como ocupar o corpo?
agora? ontem, já?
Não sei decifrar os códigos
das imagens das beiradas
sinto, sinto, tanto
que é quase nada!
quinta-feira, junho 30, 2011
CONFUSAO
estar só
recuperar estruturas
porque se longe, amolecem
Um grande campo
estou ao meio
ponteiro da rosa dos ventos
epicentro do vulcão
Dá pra ser os dois
ao mesmo tempo
coragem, medo
conceito, só desejo
Como é mesmo
que constrói o futuro?
frustrações, comprometimento?
Pedreiro de tijolos moles
Onde é?
da ponta do banco de madeira
Qual era mesmo a árvore
que você queria?
Bananeira?
Inventa
Tudo é invenção
tudo é inventado
tudo é invento
leve sombra
da noite fria
prédios consomem energia
luzes
moças
crianças
homens pelados
nus
Todos nus
na hora em que deitam
mesmo que de pijamas de flanela
Todos nus quando fecham
as janelas do olhar
e olham
nem que seja
por uma fresta do sentimento
quarta-feira, junho 01, 2011
BICHOS
queima, sujeiras
das noites, solidões
Virulento
pus
pra fora
por dentro
Presas, leoas
brinquedos duros
cantigas antigas
Sono, logo cedo
ledo engano
mancebo
Meias
furos, rasgos
cortes horizontais
Cabeças penduradas,
corpos sem vida
fugidia
Um dia mais
um lugar encontrado
tempo sem ponteiros
Já se vão os bichos
nas arcas geladas
do abatedouro
terça-feira, maio 31, 2011
LUGARES
que desdobram-se,
linhas intermitentes
setas rubras.
Pedaços de vidas
juntadas pelas carnes
deste tempo, mole
conjunções, cartilagens.
Estou sendo
no topo do barco
BERRO!! Sussurro...
Como gorila
bebo vidas, sólidas
cuspo o fogo do vulcão
Corpo-chama
saliva doce
esfregar a língua
queimar entranhas
Vício, visceral
TURBANTE
que corrói todos
os pedaços
do corpo, lânguido
Ao meio da tarde
pelas frestas do casaco
invadem quentes
as vontades do torpor
Há tempos não se tinha visitas
dos desejos incontroláveis
de trepar à tarde
num dia de mau humor
Vou ali e resolvo
buraco no estômago, novo
volto, aliviada, com mais vontade
de tocar meu próprio rosto
E o calafrio invade toda a roupa
branquidão no rosto congestionado
o mau humor de despede
como uma tarde equivocada
terça-feira, maio 24, 2011
QUENTE
sexta-feira, maio 20, 2011
C A R I N H O
segunda-feira, maio 09, 2011
NEXO
das praças cobertas
do vermelho de cobre,
lendárias
Vê, que não são poucos
os vidros quebrados
pelos gritos histéricos
dos homens amedrontados
Histéricos? Homens?
Alguma coisa errada
é que mudei os gêneros
cruzeis as calçadas
Enquanto isso
mulheres amontoadas
tentando ser outra coisa, que não
essa merda que invento, desordenada
E a desordem dos apartamentos
intocados pela higiene aburguesada
não vive ninguém ali, parece
que já ninguém quer viver nada
A sujeira que se acumula
nos cantos dos azulejos
entoados por sereias de pé
agora nada, eu vejo
E ao ver alguma coisa
vou sendo várias
homens, mulheres
e até estas sereias cansadas
Então vamos embora
que nada espera nem te cobra
sou apenas uma coisa
que agora é o agora.
Enfim, vãos são seus desejos
tortos todos os meus azulejos
sujeiras acumulam-se nas orelhas
não quero ser limpa.
Apenas as ameijoas das praias alheias
E tu, quem serás ó silhueta sem sexo?
Sereia, homem, mulher, ou nexo?
Nada, pois já não há classificações
às loucuras do ser humano
quarta-feira, maio 04, 2011
PAPEL ENCONTRADO NO BOLSO DO CASACO

"Como vamos dormir esta noite? Sem olhar pra trás ou com a certeza que tentamos tudo? Não quero mais perceber onde entrei. Mas por que é que fui deixar acontecer? Tava na cara que a cara estaria estatelada no chão, como agora.
Tenho meu coração nas mãos e queria guardá-lo numa caixa; deixar embaixo de uma figueira. Alguém um dia talvez o encontre e ateie fogo, para que nunca mais ouse bater, mesmo que desconectado de suas linhas.
Será que é melhor permanecer dentro de casa? Dormir na cama fria do lençol novo e só trocar quando já estiver puído?"
Comecei assim a pensar na compostagem, reciclagem. A casca da laranja nunca vai voltar a ser casca da mesma laranja. Mas irá ser tantas outras coisas, até de repente, quem sabe poder virar uma outra laranja, num outro tempo, de um outro jardim.
D. Alcinda, uma mulher grande, que impunha uma impunhadura apenas com seu cheiro, ocupava todos espaços. Meu tio, foi apaixonado por aquela mulher que lhe ensinou muitas coisas sobre a biologia da vida. Ensinou a ele que quando se pára pra pensar no tempo que se passou, é como se de repente estivesse a varrer o chão que acabou de ser encerado. Mas o tempo não pára. E você fica pra trás amontoado nestas angústias do que foi feito de si. Então tire a cabeça do buraco, larga a vassoura. E procure ir sujar o quintal do vizinho, encha suas mãos de lama, para pelo menos ter o que limpar. Limpeza da pele toda, da carne das unhas dos pés ao último poro do couro cabeludo.
Esta noite sonhei um monte de coisas. E delas nasceu D. Alcinda, nasceu meu tio. E agora estou limpando a minha casca, a minha casa, a minha laranja, o meu tempo. Acabo de me jogar na fonte, e meu rosto só reflete aquilo tudo que ainda não vivi.
Que venha então o reflexo do Sol nas águas do meu coração!!!!
Foto tirada de http://www.fanfiction.com.br/viewstory.php?action=printable&textsize=0&sid=66065&chapter=all
domingo, maio 01, 2011
TARDE DE SABADO
sexta-feira, abril 29, 2011
CANTO ESPREMIDO
terça-feira, abril 26, 2011
DIA DE NASCIMENTO
Hoje, que queria ter sido ontem, já não posso ser amanhã. Não guardo rancores da vida, dos amores. Só que agora não queria guardar nada. Poder comemorar todo dia um novo nascimento, o meu. Junto de mim não há ninguém, porque eu quis que fosse assim. Só, no alto da montanha, sinto falta; de ar.
As vigas que não são metálicas, feitas de emoções, de lembranças, memórias, desmoronam, derretem. Sou de ferro fundido, fudido, velho.
Hoje não quero falar, não quero ser, não quero ter. Só as lágrimas que agora já não se acumulam, percorrem todo meu corpo. É quase como apertar a ferida da perna para sentir a alegria da dor, choro, escorro, forço. Força que precisa sair daqui, de dentro de mim, de dentro da minha casa.
Busco espaços livres, e já estou lotada, chego a querer ter vivido menos coisas. Sinto o corpo acumulado, cheio. Preciso de vazio. Quero amar de novo, mas para isso, preciso matar meu coração, espremê-lo, chutá-lo até a outra margem da estrada. Construção. Implosão para construir. Quero parir um novo orgão, bem novinho, bem vazio, para que eu possa enfim descansar em paz, pois afinal o sangue novo circula nas artérias e o ar, que faltou no cume da montanha vai encher meus novos pulmões e vou descer até a cidade, onde vão nascer os novos amores.
E você, já não vai existir. E nós, seremos outros, e a folha viajará pelo parque chamado VIDA. Estou tentando ser outra, juro que estou. Quem sabe dessa vez, você goste de mim, e quem sabe mais tarde, ainda, eu já não goste de doce. Só que na verdade, nada disso vai mais importar, porque seremos outros.
segunda-feira, abril 25, 2011
M E N T I R A
Sinais de corpo
jogados
amontoados sobre terra
mortos, carcaças
Só queria diversão
ela, não queria nada
os outros querem o quê?
Sorvetes de morango
Palavras soam
como balas atiradas
de uma arma-dilha
caí na teia da aranha
Sorrateira vida
medida em xícaras
punhados de latitude
miopia da civilização
Questões falsas
angústias fabricadas
de um futuro aterrorizante
Mentira
II
Estou tentando
juro que sim
tento bem até
nunca chegar ao fim
Será que poderia
por favor explodir
a casa onde vivi?
Era só pra nascer de novo
Mais fria
sim, quero ser mais fria
não quero amar
chego a atravessar a rua
Coraçãozinho endurece
virando uma só pedra
de mármore carrara
esculpida no portão
No porão da alma
guardo só entulhos
pras crianças brincarem
com os cacarecos da avó
Mas se não tiver filhos?
É melhor explodir a casa
"Quem perde o telhado
em troca recebe as estrelas"
Eu já não amo
Mentira
segunda-feira, abril 11, 2011
OLHOS D'ÁGUA
Menos ar
olhos secos d'água
todo o sal do mar
amontoado nas pálpebras
Ve-se menos a linha
horizontal das relações
ve-se mais círculos
viciados
Pegar uma tangente
viajar nas setas do mar
deixar a onda bater
e levar para o triângulo
Será?
parece que respiro melhor
mais húmido
mais humano
Mesmo que não se chore
mesmo que não se chova
mesmo que calados
estes olhos d'água
Já tão embaçados
a neblina virou lente
o coração virou orgão
e meu amor não virou nada.
II
Conta quantos dedos
aparecem na janela
quantas pessoas
amontoam nela
Vejo a tua cara
vestida de rosto
teu seio
de pedra
Se choro
já não canto
de canto
choro no vagão
Sons me trazem
águas das ondas
choro, choro
e o metrô cheio
Ninguém dá por isso
só se pensa em chegar
mas onde se vai?
Guardar as águas
E já não quero
o que?
já não penso
ser, saber
Sei lá,
hoje quero chorar
até cansar
e ler poesia na cama.
terça-feira, março 22, 2011
MALDITA IGNORÂNCIA
ignorância
s. f.
1. Estado de quem ignora.
2. Falta de ciência ou de saber.
3. Incompetência.
Decidi estudar porque não queria ficar parada vendo a minha vida jogada a este destino capcioso que estavam tentando inventar pra mim. Costumo com freqüência ser questionada o porquê de estudar filosofia, afinal para que serve isso tudo? Essas coisas complicadas, essas pessoas que “viajam”. Viajam para onde? Talvez para um lugar mais perto de mim própria, talvez para ter ferramentas suficientes para construir meu próprio futuro, a partir da realidade que me é dada. Com certeza para poder ter uma melhor condução da vida e aumentar, só aumentar a minha potência de agir, nas mais variadas formas em que isso é possível. Ser afetada de bons encontros, alegres encontros, que só são produzidos, quando se tem um conhecimento adequado das coisas.
Aí, outro dia, ouvi de uma pessoa bem próxima, da qual inclusive nutro uma certa admiração, da qual tenho vontade de partilhar estudos e questões filosóficas, que ela estava em dúvida se escolhia estudar ou optar pela ignorância, afinal ter a própria condução da vida e do que pode um corpo, costuma dar imenso trabalho. Que se agora resolvesse trocar todas as suas submissões e obediências por uma “consciência” do que realmente se passa, e de que lugar pode e deve ocupar no seu próprio ato, fugiria dos lugares que agora está, e seria muito difícil. Que não poderia estar assim atenta todo o tempo.
Eu, absolutamente admirada com essa afirmação, disse que me decepcionava, pois não conseguia entender alguém fazer essa escolha assim tão livremente, não conseguia entender alguém sequer pronunciar esta frase sem nenhuma vergonha. E fui imediatamente refutada, ao ouvir que a minha decepção era problema meu.
Bom, estou até agora um pouco revolta dentro de mim, afinal o que posso fazer? Convencê-la de algo? Nem pensar, quem seria eu? Ao mesmo tempo, essa pessoa a todo tempo procura e quer estar em contato com os livros, com a filosofia. Mas pra que? Diz então que, algumas coisas servem, outras, prefere nem pensar. E eu, muda, só pensando em fugir.
É, agora me deparo com uma questão fundamental. Quero ter essa pessoa perto de mim, gosto dela, gosto de estar com ela, mas, mais do que qualquer outro dia, tive medo de gostá-la. Medo de um dia sequer ter pensado em compartilhar o que quer que fosse. Como alguém pode ser tão covarde, tão ressentida e tão fraca? Sinceramente não sei. Penso em me afastar aos poucos, afinal, que quero eu? Gastando minha energia, meus pensamentos e minhas palavras com uma pessoa que quer estar num estado de ignorância? Acho que agora a escolha é minha, assim como foi a decepção que ela anunciou. Decepção por achar que via ali, alguém que estava em busca de algo parecido com que eu busco, e que na verdade não era bem assim. Que na verdade, não consegue enxergar um Deus não católico, judaico, simplesmente por dar muito trabalho desconstruir todas as coisas.
Me pergunto mesmo, de verdade, o que é que se ganha estando na ignorância? Como isso pode ser bom? Em que instância, em que lugar, onde? As vezes, brinco com amigos, de que certas coisas seria melhor não saber para que não se sofra. Mas hoje percebo, que este estado passa, e que ao corparmos certos conceitos, ao contrário do que se parece, sim, as coisas ficam mais simples, e o sofrimento torna-se menor, afina,l de que formas passamos a ser afetados?
Então, sinceramente, vá pra puta que te pariu sabe. Continuo decepcionada sim, que continua a ser um problema meu sim, e me entristeço em ver tanto potencial jogado no monte de lixo que é a vida dos presos.
"Não há nada de positivo nas idéias que constitua a forma da falsidade. Mas a falsidade não consiste nem na privação absoluta, (pois diz-se que as mentes erram e falham mas não os corpos), nem na ignorância absoluta, pois errar e ignorar são coisas diferentes. Logo, a falsidade consiste na privação de conhecimento". (Ética, Spinoza)
Então priva-se do conhecimento, que vai ser melhor pra você.
Já eu, não sei onde é que vou estar, talvez longe daqui, ou mais tarde num lugar onde valha a pena estar, pois as almas não são nada pequenas, como já diziam os poetas!
quinta-feira, março 17, 2011
NO MEIO DE TUDO
um dedo ao meio
uma palavra muda
sem acertos
Hoje quero
amanhã nem tanto
sábado nem lembro
permaneço nesse estado mole
Hoje quero de novo
domingo nem saio de casa
e segunda já esfriou o tempo
Voltar?
Se volta ou se vai?
saudades dos cabelos brancos
que ainda nem tive
corção verde com veias douradas
Não saber nada
pra onde vão as folhas
por onde olham os amantes
em que buraco se cai
Tenho que levantar
de qualquer forma
em qualquer formato
o meu caminho
O nosso caminho
vocês estão aqui, comigo
estou aí sozinha
pra ver a vida passar.
segunda-feira, fevereiro 28, 2011
A CASA
perder-se em si
já adquiri as paredes
sou feita de chão
Florestas estão a invadir
todo o tempo
todos os quadros,
quadriculados
Luz branca cega
luz que dá forma
à todas as bordas
das imagens dela
E te olho, óh natureza
das coisas e dos homens
encorporo-te em meus olhares
cuspo-te pelo dedos
E te toco
assim, de leve
borboletas no teto da varanda
me contam seus segredos.
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Hoje
quinta-feira, fevereiro 24, 2011
D E R E P E N T E
De repente.
Passei a me ver no outro dia, e não gostei muito do que vi. Aquela história de que o passado não muda, me bate na janela e fala para eu deixar de tentar mudar os fatos, porque eles já estão dados, já foi tudo feito. Sinto nojo de mim por dentro de você e isso me assusta. Queria me jogar dentro do sol.
De repente.
Uma certa tristeza assola minha manhã, acordei com os olhos acumulados. Já não posso nadar contra as ondas, ou o mar vai me levar para a ilha deserta de mim mesma. Chove por dentro, e poder tirar esta capa por entre minha pele e meu osso, é mais do que um ato de coragem, é uma tentativa de derrubar essa coisa que inventei pra me distrair, e que agora só me deixa atenta e dura. Queria que a água salgada deste grande mar escorresse pelos meus buracos. O céu está carregado de cinza, quem sabe chova tanto que arranque de dentro de mim alguma gota.
De repente.
Quero correr tanto que não tenho forças pra escolher os sapatos. Meu corpinho está tão mole, tão sem vida, tão sem força. Tenho vontade de largar ele por aí, e pegar outro na loja de manequins. Um bem forte, bem moço, bem feminino, um bem vazio, e encher de balas e doces. Depois pegar um punhado de pedras e jogá-las com tanta força, como se brincadeira de criança fosse. E ver os olhos jogados no chão, espatifados. Ficar só com os outros sentidos.
De repente.
De repente.
De repente.
Amanhã acordo e vejo que tudo não passou de um de repente, um se, e desisto de estar nesta malemolência que hoje está me deixando absorta, revolta.
De repente.
Tenho vontade de me masturbar para provar pra mim mesma que fazer amor comigo é gostoso. E não sinto nojo, não fico em dúvida no meio dos dedos pelos grandes lábios. Mas sim, o grito será seco, e ao invés de gotas de gozo escorrerem pelas minhas pernas, uma única gota de sal escorrerá pelo meu rosto, descendo vagarosamente até molhar meus pelos pubianos e confundirei de onde é que vem mesmo o prazer, se do espelho ou das costelas aparentes nessa magreza do meu coração.
De repente.
Eu não queria ter dito nada disso, e o tempo me convence de que de repente, já está tudo feito, e agora sofre com calma pra desfrutar as novas canções.
terça-feira, fevereiro 22, 2011
Desistência de espaços duros
espaços
linhas
rotas
Desisiti
de insitir
no gesso
que cala meu peito
Vou soltando
o molde
de cara de corvo
com bico quebrado
Há tantos corações
neste peito grande
há tantos anões
nesta casa verde
Não, só um anão
o meu, igual ao seu um.
gigantes de pés descalços
com lenços nos punhos
Guerreiros sem armadura
com a cara como escudo
pode bater senhora
as marcas não me deixam mais feia
Me deixam marcada
e sou todas esssas
amarras da floresta
que brindo com leite do meu gozo.
Já vou
quem sabe eu volte
se tiver mais quente a sua fala
se tiver calor esse seu corpo gelado
Você me marcou
com pedra de gelo
agora que vou
te digo, que desprezo
Então será assim
você brinca de fingir
mas eu não brinco de disfarçar
quero-te longe
Não me contamine
com essa coisa dura
não me discrimine por
tentar te inventar
A ciência acaba
agora, deixei sua descoberta
pra você
E eu, não te quero mais pensar
segunda-feira, fevereiro 21, 2011
MANHÃ NO PARQUE
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Aula de documentário em 2008.
Convulsiono de Desejo. Será que já teorizavam os sexólogos que à beria dos 24 anos sente-se muito desejo? Ou talvez a minha mais ou menos precoce vida amorosa, que agora encontra-se na mais inédita solidão, anseia, por corpos que ardem e suam e tocam e pingam? E que adormecem no seio do cheiro do sexo.
Não consigo concentrar-me a não ser nesses gritos que bramam por todo meu corpo e que agora conseguem sair silenciosamente pela tinta da caneta. À minha frente há um homem a falar sobre o documentário inglês dos anos 30. Apenas nomes ecoam e os que consigo escrever são do Flaherty e do Grimson, mas não sei mais nada, pois o húmido e quente que sinto entre minhas pernas não me deixa pensar em nada, absolutamente em nada que não seja sair daqui e a correr para casa e me masturbar até cansar.
Pareço louca, sórdida ou adolescente? Talvez eu seja esse conjunto; esse Uno de Heliogábalo Anarquista que se compreende através dos múltiplos. Prefiro ser tudo ao mesmo tempo; quero que me chamem nomes, que me chinguem dos palavrões mais medonhos que existem, que sou tudo isso. Dou-lhes razão; sou puta, louca, safada, sou.
Acho que já não posso mais suportar este homem a falar na minha frente, mas também se vou para casa fico preocupada que o tempo não está a passar e que não vou conseguir dormir porque meu corpo está a arder, sinto-me febril; tenho suor nas mãos e nas axilas.
Tenho a minha volta exatamente 25 pessoas, contando com aquele homem a frente. E agora passa pela minha cabeça, e se eu de repente desse um grito altista? Ia ser engraçado, as pessoas chamariam-me de doida e eu adoro, adoro como gelado de morango com cereais após o jantar.
Estou praticamente a ter um orgasmo sem sequer me mexer, ou apenas abanando as ancas para os lados. Me vem à cabeça a cena do André no "Lavoura Arcaica", àquela primeira cena em que ele masturba-se ao som do comboio. Fecho os olhos e o André está mesmo ao meu lado. Queria unir-me a ele no grito desabado deo desejo, mas as 25 pessoas me inibem. O que chocaria mais essas pessoas; aquele grito altista, o grito desbado após a masturbação, ou o grito de dor ao cortar-me toda; ou ainda o grito de vômito; ou o grito do meu cú a cagar em frente ao ecrã no fundo da sala? Dava uma boa aposta sem dúvida. Como acho que não consigo fazer todas essas coisas ao mesmo tempo, deixo a aposta para outra ocasião.
Acho que vou sair daqui e fumar um cigarro, quem sabe esses devaneios desapareçam, quem sabe...
quinta-feira, janeiro 27, 2011
Carta ao meu amor

Quero viajar para aquele lugar onde a solidão faz sentido, onde estar só e somente só é o puro existir. É como se eu sentisse o vento no rosto, batendo como na infância ao correr por entre as coisas que nem sabemos o que são.
Queria apenas estar em outro lugar, mas um lugar que fosse meu e somente meu, como brincar sozinho com o amigo invisível. Mas por que não torno o aqui também meu e somente meu? Por que desta impossibilidade de me desvincular dessas raízes, deste cordão umbilical? Por que não torno este mundo visível? Tenho sindrome da infância.
Olha pra dentro agora
Estou tentando entender
Encontro pelo menos uma razão:
Que possas estar bem
Neste coração que só sabe amar
Sempre sua!
Com amor